E realizo os tons em notas de realejo
Lendo Álvaro de Campos eu vejo
O poema que sempre desejo,
Escrever para a morte antes do beijo
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Escrevo assim pra me entender
Escrevo para mim, para sobreviver
Sebrescrevendo o que quero dizer
Em letras que possam adormecer
No coração de quem quiser ler
E talvez, contrário a mim, me esclarecer
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No cigarro, a fumaça do passado amarga o instante
Na bebida, o gosto do amado tão distante
E na razão boba de quem arruma os sonhos na estante
Esperando dividi-los com seu amante
A certeza de que o caminho restante
Trará de volta a paz e o amor de antes
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Outro trago, outro gole e outro pensamento
Voltando-se mais uma vez para dentro
Para onde nasce o tédio e o contentamento
E a certeza de amar o belo e o sem talento
Cala o medo do sofrimento
Devolvendo à boca o sorriso lento
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Como deste amor com a boca rasgada
E os pedaços do teu sorriso remonto de madrugada
Me olhando no espelho de cara borrada
Encarando todos os defeitos de uma vida passada
Apago a luz então cansada
E me deito, sozinha,sonhando outra vez, acordada.
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Não penso, não paro, não socializo
A resposta do louco é sempre o sorriso
A rima da rima tende ao infinito
Quando penso o que quero, paro e reflito
Quando não penso, não paro e simplesmente, realizo