quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Menino no mundo - parte I


              Lá estava eu, correndo de um lado pro outro a bater com aquela bola enorme no chão, a driblar tudo e todos que aparecessem na minha frente. Como era ágil e habilidoso. Ninguém me segurava porque eu não deixava ninguém me tocar. Era invicto, temido por tanta agressividade e destreza no jogo. Aliás, não precisava de time, nunca precisei. Fazia tudo sozinho atravessando a quadra e batendo a bola no chão até encontrar o outro lado. Enfim, a cesta. Eu era incrível e não errava uma. De dois, de três, enterrando ou, fosse como fosse. Às vezes até inventada alguma coisa pra fazer cesta. Fazia gracinhas e brincava com o adversário.
                Às vezes alguém tentava me segurar, fazer falta, mas eu me esquivava com maestria, pulava no ar e mandava a bola pra dentro daquela cesta. Eu devia mesmo ter sido chamado pra jogar no dream team! Por que não? Modéstia a parte eu era realmente bom. Tudo bem, eu tinha apenas onze anos e jogava sozinho, na rua. Mas se ao menos eles tivessem me visto. Eu brilhava. Dava rodopios em volta de mim mesmo - ou melhor, do adversário - jogava do meio da rua e fazia cesta dentro de casa. Cesta imaginária, claro. Nunca tive uma de verdade, mas também nunca precisei. Eu sempre acertava em cheio. De “chuá” a maioria das vezes, sem encostar nas bordas.
              A única vez que perdi uma cesta foi por causa da minha mãe, que me desconcentrou no último lance do meu jogo solitário, gritando a hora do almoço. Errei. Tive a certeza de que ouvi a plateia me vaiar. Mas tudo bem, depois eu voltei lá e fiz mais um monte de cestas pra compensar. Eu era um astro voando baixo e, no fim, fiquei no chão mesmo. Minha carreira no basquete não decolou. Em nenhum outro esporte na verdade. Depois eu conto como eu era no futebol. Você não vai acreditar. Se no basquete eu era bom, no futebol eu...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Bonito o céu

Hei! Alou!?
ALOOOOUUU!?
Existe vida por estes terrenos inabitados? Mas que besteria, se existisse vida não seria chamado de "terreno inabitado".
Escuta! Escuta! Acho que tá vindo alguém!
Alguém? Alguém quem?
E eu lá sei, alguém ta vindo, abaixa, abaixa!
Porra! Essa não era a merda da terra inabitada!?
Sei lá meu! Já não era desde a hora que a gente chegou mesmo! Vai ver é só mais alguém vindo aqui xeretar, como estamos fazendo!
Xeretar? A gente não veio procurar alguém?
Procurar alguém? Nas terras inabitadas? Que ideia maluca é essa!?
Porra! Ta vindo pra cá, se esconde!
Mas não tem nada, não tem onde se esconder.
Se vira rapaz, eu to procurando meu lugar.
Se vira o caramba, vou dar de louco!
Hei! Hei!! Psssssiu! Que cê tá fazendo seu maluco, volta pra cá.
Cala a boca!
Volta porra!! Ah! Eu vou cair fora.
Espera!!! Espera e olha.

- Boa noite!
- Oi, boa noite!
- Bonito o céu, não é mesmo?
- Oi?
- O céu! Bonito né?
- Ah! - olha pra cima - é sim, bonito!
- O senhor mau olhou.
- Escuta meu filho eu to com um pouco de pressa, não é hora de olhar o céu.
- Não é hora.. mas, sempre é hora.. hei!
- Desculpe amigo, estou com pressa. Arrume outro pra conversar.
- Mas eu já tenho com quem conversar! Veja!
- Adeus.

Que cara mais mal educado.
Você está louco, foi falar com ele assim.
Sim! Fui! Fui porque estou cansado de você.
Cansado de mim? E o que foi que eu fiz pra você se cansar de mim?
Você.. você.. não me deixa em paz, ta sempre junto. Dá pra me deixar um pouco?
Te deixar? Você não ouviu o que aquele senhor falou? Você precisa arruma alguém pra conversar.
Sim, eu estava tentando, mas ele não quis.
Claro que não quis, parecia um lunático falando sobre o céu. Que papo mais chato!
Escuta, me deixa. Eu quero falar do que eu quiser, com quem eu quiser. Quem sabe assim você...
Eu o que, hein? Me diga! Eu o quê!?
Você some, tá entendendo! Some!
Seu babaca.
Se eu sou, você também é!
Ah é!? E porque?
Por que eu dito o que você fala! Eu escrevo as tuas palavras! Eu decido a sua hora de falar.
Ah! Então você tem total controle sobre mim?
Sim!
Me faça desaparecer então! Vamos! Quero ver, estou esperando!
É isso o que você quer?
Se você for homem o suficiente! Aposto que não tem colhos. Você precisa de mim! Não fosse eu, com quem você falaria nos seus textos idiotas hein? Nos seus devaneios!
Ok, ok! Se é o que você quer. Lá vai.
O que você está fazendo?
Fechando os olhos!
Isso eu sei tonto, mas pra que fechar os olhos se você ainda consegue me ver?
Não consigo! Está tudo escuro e eu não te vejo!
Não? Tem certeza?
Tenho.
Eu estou dentro da sua cabeça! Sou fruto dessa tua timidez ridícula que te afasta das pessoas e te coloca a falar comigo. Amigo imaginário lembra!?
Cale a boca, não posso te ver!
Pode sim! E é mais fácil você não me ver abrindo os olhos e prestando atenção em outras coisas! Não foi isso o que o doutorzinho "sei lá o que" te falou?
Doutor Jacó! Doutor Jacó! Porra, vou abrir os olhos!
Otário!
Por que? Por que está rindo de mim?
Eu mando em você. Se eu quero que feche os olhos, você fecha. Se quero que abra, você abre! Você é patético!
Eu sou patético.
Você é patético.
Eu sou...

Desculpe.
Pelo que?
Por te chamar de patético.
Tudo bem, você só diz o que eu penso mesmo.
Está querendo dizer que controla o que eu digo?
Bem.... Hei! Hei! Não comece que já está me dando dor de cabeça.
Tá, tá, parei. Dor de cabeça não dá.
São insuportáveis.
Sim, são insuportáveis.

Quando será que o Jacó vem?
Não sei. Ouvi dizer que não vem mais.
Não vem mais? Mas.. eu preciso de atenção, de cuidados.
É eu também, mas acho que ele não vem mais.
Poxa! Não vem mais? Então vamos procurá-lo!
Sim, sim, vamos! Claro! Por onde começamos?
Que tal por ali, ó?
Ali onde?
Ali, não ta vendo?
Não, aonde? Alí? Mas não tem ninguém ali.
Sim, não tem ninguém. É por isso que chamam de terreno inabitado.
Ah chamam? Terreno inabitado?
Sim.... Vamos ou não?
Vamos....