sábado, 29 de dezembro de 2012

Entre ruas

Cá "estamos" eu novamente. Eu e meu ego, esgotado de ser ego porque eu não o ajudo muito. Você imaginou que estaríamos aqui? Não? Nem eu, porque eu não acreditava realmente. Pra mim sempre foi algum tipo de fantasia, mas não sei se acreditei que aconteceria de fato, que chegaríamos neste ponto tão... O quê? Sim... bem.. mas a algumas semanas atrás.. é, passado eu sei, e hoje.. isso! presente! Mas ainda fica aquela dúvida sabe? Aquela coisa surreal que marca este momento. Se for ver bem é uma terça-feira de uma semana totalmente aleatória em que, que eu saiba, nenhum astro deve estar se alinhando ou se organizando de forma alguma pra que isso faça sentido, pra que aconteça, entende? Sim sim, talvez o próprio caos em si tenha sentido aqui neste momento, você já ouviu a história sobre o momento exato do caos em que ele se organiza e enfim... tá, parei com o papo aleatório, desculpa ser chato! Ah! Para, sou sim.. chato. Não, você não, você até que é legal. E bonita! Você é bonita! Não fique tímida, eu sempre achei e sei que muita gente também acha. Gente até demais pra falar a verdade, se eu fosse você não sairia mais de casa, é perigoso por aí. Lembro daquele dia que a gente tomou um sorvete pela rua. Você lembra? É, sim, você não gosta de... Mas como não pode gostar, é o melhor sabor do mundo! Ah! obrigado, o seu também! Agora fiquei sem graça... Não não, por favor, não vai agora, fique mais um pouco. Silêncio né? É, eu acho que.. tudo bem. Risos e risos. Bom é melhor eu ir mesmo, preciso dormir. Você devia também, descansar que o dia amanhã é longo... ah! não esqueça seu livro. Eu já li! Está bem, até amanhã então. Obrigado, você também. Beijos. Beijos.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Sinestesia

Cada dia mais o cheiro dessa cidade impregna em meu nariz e eu tenho a certeza de que não sairá tão fácil. Mesmo às vésperas de partir, abro a porta da casa e deixo entrar os invisíveis aromas das laranjas misturado com fumaça de locomotiva. O barulho da máquina, ainda que distante, relembra os dias que passei ali em plena madrugada calorenta, do lado de fora da casa observando as poucas estrelas no céu. Em dias de chuva dá pra ver melhor, por conta da fiação ruim nas ruas que não sustenta as luzes nos postes e revela por trás de seu manto urbano uma paisagem natural, bela em todos os sentidos. Suspiro, lembrando também das noites em que, ao invés das estrelas, minha companhia era um cigarro ou um caderno velho cheio de anotações. Os olhos vermelhos denunciam que também tive algumas tristezas por ali, naquele mesmo lugar. As estrelas e as lágrimas dividindo o quartinho apertado das emoções. 

Um dia, os vizinhos me convidaram para um churrasco na calçada. Sambinha, caipirinha e carne a vontade, tudo na conta deles já que eu era novo. Aceitei sorridente, ainda que com enrustida timidez. Conversamos e bebemos sob o sol escaldante desta cidade. O cheiro ali, era de liberdade. A sensação, felicidade. No meio deles, dessa nova vizinhança, um grande sorriso com gosto de laranja e um olhar, com as cores do mar em degradê, não sei porque, se fixaram em mim. Meus olhos enegrecidos pela imensidão do tempo dentro de mim, também mudaram de cor. Engraçado, ela cheirava perfume caro, mas tinha o gosto salgado, suave no tato. Cada milímetro daquela pele branca feito a neve, me fizeram derreter em sais de banho no calor vulcânico da cidade e dos nossos corações. Hoje, quando voo alto olhando pro céu, eu me lembro do cheiro laranja da liberdade, dos olhos oceânicos dessa felicidade nova, da boca dos desejos avermelhados e da pele branca que me deixou assim, falando em cores de novo.