domingo, 7 de agosto de 2011

O melhor de Bob Dylan

Ela vai à vitrola dele e fuça o que tem la dentro. Levanta o disco à favor da luz. Absorvendo os raios fotóticos amarelados de lâmpada em final de vida, o nome Bob Dylan. Algum "Best off..." ou coisa assim, de quem conhece pouco o artista e confia na opinião dos outros sobre o que deve ou não ser ouvido sobre aquele tal. Poe pra tocar, baixinho.

Ele oferece: - uma dança, minha cara?

-Minha cara? Que careta. Quem dança Bob Dylan?
-No meio de todas essas loucuras, o que você não dançaria? Neste momento, não recusaria nem uma valsa de debutante.
-Eu já debutei há tempos meu "caro", hoje eu labuto pra não dançar mais.

Ele estende a mão e insiste: - uma dança Bob Dyliânica com o caro aqui. Depois disso, curtimos o mundo lá fora, se ele não curtir a gente antes.

-Depende. Tem mais? - oferece a mão a ele.
-Tem, mas pra depois. - puxando -a para si. Agora aproveita o que ja está na sua cabeça... ou vai estar em qualquer minuto.
-Até agora, não senti nada - e explode numa risada insanamente apaixonante.
-Exatamente agora, nessa tua risada, eu senti tudo.
-Então você ja está doidão? Eu devo ser forte pra essas coisas...
-Deve ser.. a certas drogas eu caio de joelhos na primeira risada.

Silêncio.

-Vamos esquecer o mundo. - ela sugere.
-Que mundo? O nosso ou o deles?
-Os dois, criemos um terceiro. Um mundo igualitário, ditatorial, onde todo mundo é obrigado a dançar ao som de Bob Dylan.
-Pensei que você achasse isso loucura.
-Eu acho, mas aqui na loucura, não existe nada mais normal. Um viva a Bob Dylan e a todos que dançam por ele.
-Um brinde.

Brindam copos imaginarios.

Ele continua: - escuta... eu tenho que te falar algo.

-É mesmo necessário?
-Talvez... talvez não.
-Sabe, as vezes as coisas faladas assim, aqui no nosso terceiro mundo - ela ri do próprio trocadilho - podem não ser reais nos outros mundos. No deles, ou no nosso.
-É.. talvez não seja assim tão importante.

Ela afasta o rosto do peito dele e o encara nos olhos.

-Sou curiosa o suficiente pra perguntar uma vez. O que é?
-Deixa, quem sabe outra hora o escritor que nos imagina e fala por nossas bocas crie coragem e escreva em mim o que eu quero lhe dizer.
-É... talvez ele escreva direto em mim mais pra frente nessa nossa história.
-Como assim?
-Certas coisas não precisam ser ditas. Cedo ou tarde ele vai me fazer perceber sóbria algo que eu só percebo assim, inibriada, totalmente aberta aos meus sentimentos.
-Seria mais fácil assim, senhor escritor! - ele fala olhando pra cima.
-Seria mais fácil! - ela grita olhando pra cima também.

Os olhos aos céus se abaixam lentamente e se encaram, observando os céus e viagens astrais um dentro do outro.

-Tão mais fácil... - fala um dos dois.

5 comentários:

  1. Íncrível texto. Leve e intenso. Adorei mesmo! Um abraço!

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  2. adorei!!! vou imprimir pra levar pro ACASO!! Aii.. como eu gosto dessas idéias!!! = )

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  3. ha! que impressionante. Uma ou duas semanas atras assisti um filme sobre ele. Hoje escrevi um textículo que envolve dança e.. folheando uns blogs leio isso aqui de presente. Um beijo, meu caro! lindo texto!

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