sábado, 30 de janeiro de 2010
Convite
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Travesseiro
A tensão podia ser sentida em todos os músculos no segundo antes de começar a falar e depois o olhar dele duro, denso, pontiagudo prendendo-a ali, imóvel. Não conseguia se lembrar bem de como as palavras saíram durante a conversa, mas ainda podia sentir a boca seca que deixava o monólogo obviamente ainda mais seco e cortante, tão desagradável quanto a própria falta de saliva para umedecer as vogais. Depois, lembrava dele se levantando, pegando o resto do uísque de cima da mesinha de centro e tomando de um gole só. Último trago, longo e forçado, talvez com raiva. Soltou a fumaça para o alto e na sala, onde já parecia ter uma nuvem negra e trovejante acima de suas cabeças, começou a chover no pensamento dos dois. Era o fim.
Ele veio em direção a ela pisando compassadamente, deixando o corpo pesar por completo em cada pé. O som dos passos no tapete antigo, presente de casamento, parecia ecoar seco na casa inteira. Subia as escadas e dava adeus aos cômodos por onde andara, à cama onde se cruzava com outros passos esquentando a frieza do dia-a-dia, no passado, ao banheiro, ao corredor, à sacada e enfim saía pelas janelas como se nunca tivesse entrado. Cambaleando, tentou beijá-la, mas ela o conteve e antes que caísse o segurou em seus braços. Talvez consciente de que aquele seria o último abraço, o apertou com força e inclinou o pescoço para sentir o cheiro, pela última vez, do pescoço robusto do amante. Ou daquele que já fora o amante. Colônia e uísque. Imaginou se Johnny Walker não daria um bom nome de perfume. Será que era francês? E teve o pensamento interrompido pelo choro, do outro, em seus braços, que não se importava se Johnny, Jack, José ou o Papa usavam perfume. "Você está bêbado", pensou em dizer. Não disse. Deu tapinhas nas costas do homem grande e agora pouco imponente que chorava e pediu para que fosse embora. Ele foi.
Ela passou o resto do dia sentada numa poltrona, de frente para a janela da sala, olhando a árvore com um balanço do lado de fora, imaginando que em sua vida, como no balanço, sempre sendo empurrado por alguém, por vezes mais altas e por outras mais baixas, uma hora ou outra acabaria por ter que se empurrar sozinha.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Ela
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
bonito
Sim, que lugar bonito.
Tirando a gente feia...
É, o resto é bonito.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
domingo, 10 de janeiro de 2010
No meio
De um lado, a loucura.
Do outro, a lucidez.
No meio, o mais gostoso, a mistura.
sábado, 9 de janeiro de 2010
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Do começo ao fim
Esta é uma história que deveria começar como todas as outras ou, para todos os fins, levar em primeira frase a marca clichê: “esta é uma história como todas as outras” ou “esta é uma história como outra qualquer”, porém decido que, para melhores desenvolvimentos, esta história não seja como todas as outras ou como outra qualquer evitando que o leitor, mesmo o mais escrupuloso, saiba eventualmente como os mistérios aqui abertos venham a terminar. Ainda que, sabemos, nenhuma história é como a outra, mesmo que a diferença seja um ponto ou uma vírgula. Sendo assim preencherei estas primeiras linhas com o dizer de que esta história não é como outra qualquer ou como qualquer uma jamais vista e sua diferença esta em que ainda nas primeiras frases, com a maior das destrezas de autor e o poder a mim investido, por mim mesmo, permito que esta história termine aqui, antes de começar, evitando aos leitores maiores pensamentos sobre os assuntos que poderiam ser abertos aqui tomando tempo de suas vidas. Sem vilões e bons rapazes, sem mortes e loucuras de amor, esta história tem seu ponto final justamente onde não poderia, mas, como dito anteriormente, tenho poderes sobre mim mesmo e sobre a escolha das próximas frases, e digo, ou melhor, escrevo que o ponto final toma seu lugar aqui, em meio às palavras recém começadas. Sendo então o final feliz ou triste, depende de quem lê, termino por aqui antes mesmo de começar.