Perguntei a ela por que não e ela me respondeu que era complicada de mais.
- Como assim?
- Assim. - ela disse.
E continuou.
- Leia isso! - abrindo um livro do Caio F. Abreu e me empurrando para sentar em uma grande almofada que estava no chão.
"Os sobreviventes".
- Eu já li esse texto. É realmente complicado, mas também muito bonito. Assim como...
- Não. Leia de novo, ouvindo esta música! - ela, meio mandona.
Vai até o rádio e coloca um vinil velho, da Ângela Ro Ro. Amor meu grande amor é a música. Ela ainda escuta discos de vinil.
- Conheço essa música também. - eu, o culto.
- Você precisa aprender a escutar a música. Conhecer não basta. - ela, mais culta do que eu.
E começa a dançar ao som da música, fazendo círculos no tapete Yin-Yang comprado usado em alguma feira coisas velhas. Com uma das mãos pra cima e a outra abraçando a si mesma pela cintura, de olhos fechados, ela dança a valsa dos alcoolizados. Eu a observo impaciente, sentado na grande almofada no chão, desconfortável.
Ela abre os olhos e me encara.
- Leia o texto. Agora. - diz, sorrindo pra si mesma.
Começo a ler, como ordenado. Leio, escuto a música, observo ela dançando nas pausas e deixo aquilo me mostrar o caminho que tanto ela quer que eu percorra.
"Amor meu grande amor" - ela canta junto. "...e tudo o que eu te dou, meu calor, meu endereço...". Leio o texto. Leio o texto e escuto a música. Leio a música, o texto. Escuto o texto enquanto leio a música e ela dança, dança sobre a minha alma que agora entende e se assusta.
- Eu preciso ir embora. - digo.
- Por que? - ela pergunta, congelando o movimento da dança.
- Você é muito complicada.
Levanto e saio pela porta da frente.
eis que me senti na história, ouvi a musica em minha mente e acabei dançando com ela! haha muito bom Filippe!
ResponderExcluirJusto.
ResponderExcluirEu diria que esse texto é uma ótima conclusão para "Os sobreviventes". Axé, axé, axé você diria após sair pela porta da frente, implorando para o elevador chegar. Adorei a mescla de Filippe e Caio F. :)
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