O quarto não está mais do que vazio, cheio de móveis e silêncio apesar da música no rádio. Música que toca em silêncio os pensamentos dele. O teto deste apartamento não tem manchas, é branco por inteiro à espera das marcas de uma vida um tanto quanto entediante. Ele fuma um cigarro na sacada, com a porta fechada pra fumaça não invadir o quarto, para além dos pulmões, junto com os primeiros raios da manhã que, esses sim, adentram o ambiente sem pedir licença. Os olhos estão perdidos em um horizonte poluído de edificações angulares onde é possível que esteja procurando o fim. O ponto mais longe daquela sacada. Não pensa em pular, gosta da vida, mas se voasse pularia. Voaria para além do horizonte vertical, em busca de uma montanha em que pudesse meditar sozinho. Na companhia do vento. Queria poder enxergar o vento, as cores de um cheiro bom e o sentido da vida. O cigarro acaba, a bituca também não voa e cai feito beijo no asfalto, com sabor de nicotina. Ele sorri porque pensou no beijo, no asfalto. Felicidade repentina pela vida que viveu. Que bom que já havia lido algo de interessante, mas queria mesmo era escrever. Algo que pudesse ficar para sempre, marcado, feito aquele beijo no asfalto agora carimbado pela borracha do pneu de algum andarilho motorizado. Somos todos andarilhos, ele pensa. Almocreves. Cedo ou tarde encontramos o nosso caminho. Às vezes cedo demais, às vezes tarde demais. Quase nunca do jeito que a gente quer, mas no fim, bem, encontramos.
compromissos
ResponderExcluirElos sem cartões e tostões furados e todas as livrarias os livros imaginários
sacolas de editoras sacolas e a lapiseira poly um ponto seis da faber que eu não-conheço
saudades suas daté daqui a pouco +3