-
Depende, o que é isso a princípio?
- Não
sei, mas não depende de mim o que possa ser.
- Ou
depende e você não quer aceitar.
-
Recuso-me.
- Pois
prossiga sem compreender, se isso te faz bem.
- Me
mata por dentro, mas não quero crer que se eu aceitar entenderei.
- Nada
garante.
- Nem
impede.
-
Concordo, é preciso tentar.
-
Empírico.
-
Experimento auto-social.
- E se
não der certo?
- Já
não está certo, há de piorar?
- Tem
razão, não piora.
- Mas também
não sai de onde está.
-
Melhor assim.
-
Melhor seria se fosse diferente.
- Ou
pior.
- Há de
piorar?
- Deixa
pra lá.
- Pra
depois ou para sempre?
- Pra
outro.
- Ou
outra.
-
Preciso me retirar, você vem?
- Não.
- E pra
onde vai?
-
Espero você voltar.
- Está
frio.
- Eu me
aqueço, e você?
- O
vento me acalma.
-
Parado não há vento.
-
Movimento é mudança.
- Mudar
é bom.
- O bom
é conhecido.
-
Desconheço.
- Agora
eu me vou.
- Não
se vá, encontre-se.
- Sem
saber aonde estou?
- Sabendo
ou não.
- E
como saber?
- Deixa
que eu aponto.
- E se
estiver errada?
-
Pergunto eu, e se?
- Mal
não há de fazer.
- Nem
pode ser pior.
- Então
devo ficar?
- Se
for o melhor.
- Não
há como saber.
- Basta
decidir.
- E
depois?
- O
depois dirá.
- O
futuro é mudo.
- O
futuro é o mundo.
- Mundo
pequeno.
- Mundo
cão.
- Para
onde então?
- Por
aqui mesmo.
- E
você?
- Me dê
a sua mão.
- Não
me pertence.
- Será
minha então.
- Tanto
faz.
- Não
serei dona.
- O que
será?
- Outra
mão apenas.
- Tenho
duas.
- Não
tens nenhuma, esqueceu?
- Está
certo.
- Agora
são três.
- Mãos
do mundo.
- De
ninguém.
- E de
todos.
- Agora
sim.
- O
quê?
- Você
sorriu.
- Não
me pertence.
- Mas
se aproprie.
-
Posso?
- Não.
-
Então?
- Deve.
- Me
obrigue.
-
Agora!
- Está
bem.
- Viu.
- Não
posso olhar.
- Não
te pertencem os olhos também.
-
Exato.
- Use
os meus.
- E
você.
- Não
importa.
- São
belos.
- O que
vê?
-
Vejo-me.
- És
belo também.
- São
seus olhos.
- São
reflexos.
-
Espelhos.
- E espelhos
não mentem.
- Mas
se quebram.
- Ainda
assim.
- Mal
se pode ver.
- Se
juntar os pedaços.
- E se
faltar algum?
- A
gente inventa.
- A
gente?
- Toda
a gente.
- Então
você vem?
- Vou
depois.
-
Depois do que?
- De
você.
- Não
entendo.
- Não
há de entender.
- Vou-me.
-
Lembre-se de mim.
- De
que me vale?
- Só
assim posso viver.
- Pois
se quiser me acompanhe.
- Nos
encontraremos de novo.
-
Quando?
-
Quando, é questão de tempo.
- Não
se aplica?
- Não a
nós.
- Nem
tempo nem espaço.
- Vejo
que agora entende.
- Você
ao menos existe?
-
Pergunte aos filósofos.
- Não
existem mais.
- Então
está respondido.
- Bom,
então, adeus.
- Até
logo.
-
Breve?
- Em
tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário