quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Lilian

Os olhos profundos, quase cortantes, preenchidos por um azul de dar inveja ao oceano, eram cercados por um emaranhado de pés de galinha. Marcas da idade, justapostas e perfeitamente delineadas por um toque de maquiagem, que tinha por finalidade acabar com as marcas, mas acabou por destacar a essencia da beleza no ponto alto dos sorrisos. Ao meio, nem tão simetricamente, cortava o nariz pequeno, redondo e feio, que se encaixava em sintonia à cavidade do buço dando inicio a boca. Esta sim, a boca, nem pequena nem grande, de lábio inferior carnudo e superior murcho, talvez como marca do tempo, surpreendia o olhar e chamava a atenção. Quando o sorriso se abria via -se os anos de café tomado, três vezes ao dia, como um ritual que deixava uma marca em que se podia ler não o futuro, mas o passado. Apesar disso, arcada perfeita ainda que falsa. Depois o queixo, sem nada de especial ou atraente, mas definitivamente feminino. Dali, as linhas subiam de volta contornando o rosto de anjo caído e vivo. Cara branca de maquiagem, mas leve. Maquiagem que parecia ser parte do rosto, quase uma característica inata daquela mulher. Assim, formava-se o rosto da beleza, o olhar da gratidão e o sorriso da felicidade. Por fim, os cabelos curtos e despenteados permitiam uma franja que se soltava to topo da cabeça e atravessava o olho direito criando a marca que faltava. Moderna e antiga. Linda e velha. Via -se ali todas as deusas numa só. Nela.

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