Aquela brincadeira de criança se tornou adulta. Perdeu a graça.
Manteve-se a memória, apenas isso. Os primeiros passos, os primeiros balbucios, primeiros rabiscos, bronca, aviãozinho, video-game, raiva, punheta, estudos, punheta, vestibular.
Enfim, um universitário de respeito perdido na bebida e nas drogas. Fazendo teatro aos finais de semana pra quebrar o gelo do um-mais-um-rais-quadrada-de-três-não-sei. Também, foi escolher logo engenharia? Devia ter ido viver a vida. Hoje em dia apenas sonha com ela.
Meus pés descalços se enraizaram na cidade que me acolheu. Os donos dos bares me conhecem pelo nome. Os novos animais que adentram este meu mundo - leia-se, os bixos universitários - me respeitam por qualquer besteira e não por quem eu sou. Aliás, duvido que saibam quem eu sou. Fazer o quê, também não sei quem eles são. Pra mim, são bixos. Aliás, entraram gente, se tornaram bixos e talvez saiam uma mistura. Bixo-Homem, que sabe fazer contas.
Retornar ao lar também não é facil. Ver minhas coisas antigas espalhadas pelo chão, quase do jeito que as deixei, é espantoso. Sou pai de mim mesmo me vendo brincar pelo chão sujo que me deixou marcas até hoje, por dentro, nas tripas. Me revirou as tripas mesmo ver o antigo sapato que eu fingia ser um carro e depois um avião. Meu velho video-game empoeirado. Minha coleção de propagandas de langerie que me esquentavam em noites solitárias, quando a casa era água parada e eu era rio que desaguava no mar.
Revivi tudo isso. Senti o orgasmo. Voei alto de carro-avião e travei batalha contra um exército inteiro de homenzinhos imaginários. Comandos em ação. Que barato. Tirei os sapatos pra entrar em casa. Dei beijo na mãe, no pai. Passei reto pelas fotos nas estantes e nem percebi meu primeiro desenho -de quando era um bebê; enquadrado, imortalizado, fazendo centro na sala de estar. Fui direto para o meu quarto, velho quarto, arrumado, esperando o filho que não volta mais, voltar para casa.
Sentei ao pé da cama e chorei feito um bebê, em pele de adulto. Enxuguei as lágrimas. Agarrei o controle e destrocei centenas de zumbis famintos que estavam prestes a acabar com o meu dia. Alguns minutos depois meu filho entrou no quarto e parou a me olhar, em pé. "O que é isso?", Meu antigo video-game, "Bem antigo ein!", Tem idade pra ser seu avô, "Que coisa chata! Desliga isso e liga o meu que é bem melhor.".
Então sim. Minha infância envelheceu. Ainda que permaneça jovem dentro de mim.
Manteve-se a memória, apenas isso. Os primeiros passos, os primeiros balbucios, primeiros rabiscos, bronca, aviãozinho, video-game, raiva, punheta, estudos, punheta, vestibular.
Enfim, um universitário de respeito perdido na bebida e nas drogas. Fazendo teatro aos finais de semana pra quebrar o gelo do um-mais-um-rais-quadrada-de-três-não-sei. Também, foi escolher logo engenharia? Devia ter ido viver a vida. Hoje em dia apenas sonha com ela.
Meus pés descalços se enraizaram na cidade que me acolheu. Os donos dos bares me conhecem pelo nome. Os novos animais que adentram este meu mundo - leia-se, os bixos universitários - me respeitam por qualquer besteira e não por quem eu sou. Aliás, duvido que saibam quem eu sou. Fazer o quê, também não sei quem eles são. Pra mim, são bixos. Aliás, entraram gente, se tornaram bixos e talvez saiam uma mistura. Bixo-Homem, que sabe fazer contas.
Retornar ao lar também não é facil. Ver minhas coisas antigas espalhadas pelo chão, quase do jeito que as deixei, é espantoso. Sou pai de mim mesmo me vendo brincar pelo chão sujo que me deixou marcas até hoje, por dentro, nas tripas. Me revirou as tripas mesmo ver o antigo sapato que eu fingia ser um carro e depois um avião. Meu velho video-game empoeirado. Minha coleção de propagandas de langerie que me esquentavam em noites solitárias, quando a casa era água parada e eu era rio que desaguava no mar.
Revivi tudo isso. Senti o orgasmo. Voei alto de carro-avião e travei batalha contra um exército inteiro de homenzinhos imaginários. Comandos em ação. Que barato. Tirei os sapatos pra entrar em casa. Dei beijo na mãe, no pai. Passei reto pelas fotos nas estantes e nem percebi meu primeiro desenho -de quando era um bebê; enquadrado, imortalizado, fazendo centro na sala de estar. Fui direto para o meu quarto, velho quarto, arrumado, esperando o filho que não volta mais, voltar para casa.
Sentei ao pé da cama e chorei feito um bebê, em pele de adulto. Enxuguei as lágrimas. Agarrei o controle e destrocei centenas de zumbis famintos que estavam prestes a acabar com o meu dia. Alguns minutos depois meu filho entrou no quarto e parou a me olhar, em pé. "O que é isso?", Meu antigo video-game, "Bem antigo ein!", Tem idade pra ser seu avô, "Que coisa chata! Desliga isso e liga o meu que é bem melhor.".
Então sim. Minha infância envelheceu. Ainda que permaneça jovem dentro de mim.
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