Conheci uma garota no caminho pra casa. Raro, sim, eu sei.
Estávamos no mesmo lado da calçada. Ela andava a passos mais lentos do que eu, mas ainda havia certa distância entre nós. A alcancei. A inteção não era falar nada, mas simplesmente ultrapassa-la, como fazemos normalmente com as pessoas que não conhecemos, nas ruas, sem nem olhar para trás.
Porém, quando ja estava pra passar ao lado dela, ela, sem perceber a minha presença, fechou a passagem e quase esbarramos. Sorri. Ela ainda não havia me visto e quando fui tentar passar pelo outro lado ela me bloqueou novamente. Ri um pouco mais alto e dessa vez ela ouviu.
-Eu to tentando... - tentei explicar.
-O que?
-É... - fiz sinal pedindo passagem.
-Ah! Sim, desculpe!
Sorrisos.
Antes que pudesse dar o próximo passo para ultrapassa-la percebi que já estava em frente ao meu prédio e parei. Ela parou também, esperando o portão se abrir. Olhei pra ela. Sorrisos.
-Não é possível. - falei.
Risos. Cara de "o que!?", dela.
-Moramos no mesmo prédio? Nunca te vi.
Ela sorri e abaixa a cabeça.
Uma breve explicação: meu prédio na verdade são dois prédios. Aliás, duas torres pra não ficar confuso. Duas torres as quais vou me limitar a nomeá-las de "torre de lá" e "torre de cá", sendo esta última a que eu moro e, por coincidencia, ela também.
-Moramos na mesma torre também? - perguntei retoricamente.
Ela sacudiu a cabeça afirmativamente.
-Qual seu nome?
-Renata.
-Prazer, Filippe.
Silêncio. Sorrisos. Silêncio.
Ela é linda, vale dizer. Nos 8 ou 10 passos que demos até chegar ao elevador eu pensei: ela é linda.
Entramos no elevador. Apertei o 15, ela o 5. Em poucos segundos - creio que no tempo em que a porta se fechava - me imaginei descendo no 5 com ela e nunca mais voltando ao 15. Além de linda, gostosa. Poxa! Desço no 5 também. Quem dera!
Haviam 2 pessoas no elevador além de nós. Um casal. Dois casais, pensei. Sorri.
-É você que mora numa república... - pergunto de forma genérica, fingindo que em algum momento eu já tinha ouvido falar da república dela, quando na verdade era apenas um palpite que eu esperava ser confirmado.
-...Sim!
Ufa! 1º andar.
-É da federal? - pergunto.
-Sim. E você é da estadual?
-Sim.
Falávamos sobre nossas universidades.
2º andar.
-Achei que não havia muitas republicas por aqui. - falo.
-Hum! - ela olha pro chão.
3º andar.
-Fazemos muito barulho? - pergunto quase desesperado ao casal que nos acompanha, como se esperasse deles um assunto que a fizesse querer que eu descesse com ela no 5º andar.
-Até que não. - eles respondem.
4º andar.
-Isso porque moramos entre duas republicas. Uma em cima, outra embaixo, não é amor? - diz a mulher do casal puxando assunto.
-É. - responde o homem impaciente e percebendo meu desespero.
-Mas por enquanto está tudo tranquilo. - continua a mulher.
Enquanto isso a mulher da minha vida, a mulher que eu imaginei do beijo ao sexo, que estava ao meu lado, olhava para o chão. Provavelmente pensava em quando seria a próxima consulta ao ginecologista ou a próxima visita ao salão de beleza, quanto a outra mulher falava sem parar.
5º andar.
Ela sai dizendo tchau, interrompendo a fala da outra. Eu fico dizendo adeus, tentando imaginar a proxima vez que nos veremos.
A porta do elevador se fecha.
Em seis meses que moro aqui nunca a havia visto e agora talvez precise esperar mais seis meses pela próxima vez. - eu penso.
A mulher (do casal) que havia parado de falar, pra dizer "tchau", retoma a conversa que eu já não sabia mais do que se tratava.
O homem bufa!
Eu sorrio. Depois entristeço.
"Tchau!"
"Adeus."
São essas coisas que deixam a gente por uns dias com cara de MAR!! :)
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