terça-feira, 30 de março de 2010

Os funerais do coelho branco



Me sento ao canto, em um sofá/puff que encontro encostado na parede. Copo de cerveja na mão. Cerveja gelada. Do outro lado, a festa, onde as pessoas dançam e conversam feito papagaios. Ao meu lado uma garota semi-morta escorada na pareda e com a mão direita quase enconstando em seu próprio vomito. Ela está com a saia acima da cintura e eu posso ver sua calcinha. Seria um tesão se não fosse tão nojento aquele vômito ao lado.

Olhando em frente vejo novamente as pessoas dançando. As bundinhas de todas as menininhas que eu finjo ter o maior respeito no dia-a-dia estão balançando hipnoticamente. Gole de cerveja. Não quero ir até lá pra dançar. Quero ir até la pra trepar com todas elas. Penso.

Encaro minha cerveja pensando em como sou fracassado. Ou "estou-em-fase-de-mudança" como diz minha analista. Que fracassado, frequento uma analista. Me sinto tão diferente mas ainda sou comum como todo mundo, ligado a todos ao meu redor pela mesma pergunta clichê. Quem eu sou afinal?

Ao fundo toca uma música que diz "...e o que eu queria mesmo era copo de água suja pra beber". Fato. Beberia um copo de água suja só pra variar.

Música boa. Olho novamente pra garota com a calcinha aparecendo. Ninguém mais está olhando. Respiro fundo. Último gole da cerveja já quente. Vou até ela e pergunto se está viva. Não responde. Olho bem pra calcinha com um pouco do volume dos pêlos. Cor-de-rosa com pelinhos. Olho ao redor. Ninguém. Olho pro rosto dela e não tenho idéia de quem ela seja. "Foda-se", penso, e vou embora bêbado deixando a música de fundo...

"Tento pensar em coisas
Que não me deixem lembrar
Das noites em que
Fiz planos para
Trocar os meus olhos
Por estes restos de comida e
Cinzas de cigarro molhadas
Impressas no tapete
Em festas que estive
E ninguém me viu
Atirar bolo aos peixes

Pra que teorizar sobre estar só
Se o inverso de ser feliz
É a certeza de saber que
Nem sempre temos
Respostas que queremos ouvir?

Então me liga! - ela disse
Na verdade sequer lembra o meu nome
Ligo sim... é claro. – respondi
Acabo sempre ligando

"Sabe, hoje talvez passe
aquele filme que eu gosto tanto..."

É eu podia ser gentil
E perguntar coisas fúteis,
Mas o que eu queria mesmo
É ter um copo de água suja
Pra beber e parar de fingir
No saber se o vazio é bem maior
Agora que sabemos ter feito
O melhor pra nós dois
E deixamos tudo mais pra depois.

Sabe,
Às vezes, penso mesmo que dizer
“deixa pra lá” cansa menos
e você?"

(Os Funerais do Coelho Branco - Dance of Days)

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