sexta-feira, 16 de julho de 2010

Apertando os lábios

Ela aperta os lábios com a mão o tempo todo. Com as pontas dos dedos vai apalpando todo o lábio inferior, da direita pra esquerda e depois de volta. Para em algum ponto ressecado pelo ar. Cutuca, futuca. Chega a arrancar pedaços às vezes, é aguniante. É como um tique que ela tem, isso de apertar os lábios. Com o dedão e o indicador da mão direita, unhas afiadas, percorrendo a boca em busca de respostas. só pode ser isso. O olho perdido, parado, buscando. Às vezes acirra o olhar, quase encontrando o que procura, os dedos apertam cada vez mais forte o lábio que chega a sangrar e continuaria apertando se não doesse. Ou se alguém não lhe chamasse a atenção e desviasse seu olhar pra longe do alvo. É isso, o olho como uma seta quase alcançando o alvo. Os dedos tentam guiar a seta. Ou os dedos são como as mãos de uma velha que aperta seu véu na cabeça em oração, em busca de um milagre. O lábio é o véu. Os olhos a reza. O milagre... não aconteceu ainda, mas todos sabemos que a busca vale mais do que o milagre. Na busca crescemos. Apertando os lábios sangramos, provamos que estamos ali e ainda estamos lutando. Pode ser ainda que apertar os lábios seja apenas uma maneira de provar o tempo todo que ela existe e que esta lá. Não é isso o que muitos de nós queremos acima de qualquer milagre? Nos setir aqui? Vivos e presentes. Vai ver é isso... ou nada disso. E lá está ela de novo, apertando os lábios.

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