É uma tarde fria pra escrever. Mesmo assim, estou escrevendo como vocês bem podem ver, ou ler. Alguns amigos estão aqui na sala, conversando sobre qualquer coisa que não consigo me concentrar. As palavras passam, flutuam na minha frente e me explodem na cara sem que eu entenda uma vírgula sequer. Estou em outro lugar, com a cabeça preocupada, esquecida. Meus olhos caminham entre os rostos sorridentes e o que consigo ver são máscaras. Na verdade é a minha máscara refletida na cara deles, já que eles mesmo não estão rindo mascarados, de mentira, mas sim de verdade, de dentro. O mascarado sou eu.
Mais tarde vou sair. Tentar esquecer. Fingir que nada aconteceu e nem vai acontecer. Mesmo sabendo que alguma hora vai. Em algum momento aquilo vai voltar a mim e me transtornar. Vai me fazer uma pessoa diferente, vai me fazer bixo. Daqui a pouco estarei na rua correndo o risco de me desconstruir e revelar quem eu realmente sou. Aquele ser estranho e deformado, sem cor, sem vida, sem rumo. Na minha frente só vai existir um objetivo: ser diferente, ou indiferente a tudo. Depois disso não restará mais nada, apenas o vazio e o eco das vozes que me dizem: seja normal pelo menos uma vez na vida.
Seja normal pelo menos uma vez na vida.
Seja normal, na vida.
Seja normal.
Normal.
Nunca.
Seja normal, na vida.
Seja normal.
Normal.
Nunca.
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