quinta-feira, 8 de julho de 2010

Um gosto diferente

Preciso do som da rua para escrever. Preciso do meu décimo quinto andar. Preciso da calmaria do caos universitário em que estou inserido e que eu interiorizo como meu mundo, tentando traduzi-lo em palavras. Sinto falta do estresse, da correria, do excesso de café e dos banhos da madrugada. Sinto medo do ócio e do ar puro. Tenho pavor da solidão em família.

De férias, não me sinto motivado. Trabalhando, me sinto sem tempo. No ócio, sinto que é disperdício. Bêbado, sinto falta e sofro de descordenação. Sem computador, me sinto lento. Sem caneta me sinto impotente. Sem desculpas, me sinto obrigado. E obrigado, não é tão bom quanto por vontade própria.

Tudo isso é a parte de mim que me impede de escrever. Todo o resto é a parte que me excita a isso. Meus olhos observam, meu cérebro computa e registra, meus lábios esboçam e meus dedos concretizam. A pele sente, o nariz cheira, a língua lambe. Cada sentido tem sua respectiva palavra que define e, por consequencia, limita o ato de sentir. Às vezes me sinto mesmo limitado pelas palavras, porque por mais que queira descrever os fatos, sempre acabo com as mesmas palavras, organizadas de forma diferente, ou não. Não me bastaria um dicionário inteiro, traduzido em todas as línguas, juntas, pra descrever perfeitamente a sensação de cheirar, tatear ou lamber.

O que nos leva aos mundos longíquos e belos da literatura é a nossa mente e não as palavras. Caso contrário, todos que lessem um mesmo livro sentiriam as mesmas coisa e não teria a mínima graça. Bom mesmo é cada um viver no seu mundo. Bom mesmo é cada um sentir um gosto quando lambe.

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