terça-feira, 27 de julho de 2010

Aos meus heróis

Curioso ver como antigamente as pessoas homenageavam seus ídolos com músicas, textos, poesias, estátuas ou coisas do tipo. Hoje em dia, cada um ganha a sua parcela de comunidades do orkut e/ou facebook e pronto, fica por isso mesmo. Acho que meus heróis merecem algo mais digno do que um monte de pessoas pseudo-fãs fazendo joguinhos do tipo "voXe BeijAriA a PexxoAa aSXima?" ou "Com que personagem de desenho animado o cabelo da pessoa acima se parece?" debaixo de suas lápides.

Espero que um dia a humanidade entenda que bons amigos valem mais do que viewers no Twitcam. Assim quem sabe, menininhas de quinze anos, parem de mostrar os seios mal formados na internet em busca de atenção e comecem a fazer coisas mais construtivas, ainda que o fim seja mesmo ter atenção. As meninas com dezoito anos ou mais podem continuar mostrando, afinal elas já são bem grandinhas pra decidirem o que querem e sejamos francos, eu também não sou santo.

De qualquer forma, vou continuar homenageando Handrix ouvindo Handrix e colando posters no meu quarto. Vou continuar homenageando Woody Allen assistindo Woody Allen e colando posters no meu quarto. Continuarei homenageando Bukowski lendo Bukowski e comprando livros. Por fim, pra não continuar uma lista infinita dos meus heróis, continuarei homenageando Silvia Saint do jeito que faço desde muleque e escondendo os posters debaixo da cama.

A todos os meus heróis presto esta homenagem, ainda que para isso tenha me submetido a ir contra o que penso sobre reconhecer vossas habilidades no mundo virtual e estar aqui, escrevendo no meu blog. Deve ser por isso que eu continuo sendo fã e não ídolo de alguém. Droga de juventude sem ideais; eu incluso.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O centro

Sinto falta dos sinos do tempo. Aqueles que batem sempre que algum momento acontece. Digo, momento daqueles que serão lembrados como um momento. Bom ou ruim. Faz tempo que não os ouço, sinal de vida parada. Começo a me sentir como um rio calmo que não foi descoberto ainda, ou como a lágrima que escorre seca na face pálida de alguém em luto. Nem bem, nem mal. A lágrima não vai trazer a pessoa de volta, mas com certeza ajuda a aliviar a dor. Não é problema, nem solução de fato. Não sou problema, nem solução. Nem sim, nem não. Hoje eu sou a margem, a tangente. Me lembro de quando já fui o centro. Sempre gostei de ser o centro, apesar de ter passado poucas vezes por lá. Poucas pessoas me colocaram nesta posição, incluindo claro as que me colocaram no centro de um alvo para ser acertado. Não deixa de ser o centro se for ver bem, era o centro da atenção de alguém pelo menos. Apesar que agora, olhando melhor, o centro, aquele ponto pequeno no meio de tudo, é a menor área do círculo. É apenas um ponto. Aqui na tangente, são tantos pontos até dar a volta completa que pelo menos eu não me sinto sozinho.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Apertando os lábios

Ela aperta os lábios com a mão o tempo todo. Com as pontas dos dedos vai apalpando todo o lábio inferior, da direita pra esquerda e depois de volta. Para em algum ponto ressecado pelo ar. Cutuca, futuca. Chega a arrancar pedaços às vezes, é aguniante. É como um tique que ela tem, isso de apertar os lábios. Com o dedão e o indicador da mão direita, unhas afiadas, percorrendo a boca em busca de respostas. só pode ser isso. O olho perdido, parado, buscando. Às vezes acirra o olhar, quase encontrando o que procura, os dedos apertam cada vez mais forte o lábio que chega a sangrar e continuaria apertando se não doesse. Ou se alguém não lhe chamasse a atenção e desviasse seu olhar pra longe do alvo. É isso, o olho como uma seta quase alcançando o alvo. Os dedos tentam guiar a seta. Ou os dedos são como as mãos de uma velha que aperta seu véu na cabeça em oração, em busca de um milagre. O lábio é o véu. Os olhos a reza. O milagre... não aconteceu ainda, mas todos sabemos que a busca vale mais do que o milagre. Na busca crescemos. Apertando os lábios sangramos, provamos que estamos ali e ainda estamos lutando. Pode ser ainda que apertar os lábios seja apenas uma maneira de provar o tempo todo que ela existe e que esta lá. Não é isso o que muitos de nós queremos acima de qualquer milagre? Nos setir aqui? Vivos e presentes. Vai ver é isso... ou nada disso. E lá está ela de novo, apertando os lábios.

domingo, 11 de julho de 2010

Os problemas do mundo

"Qual o problema do mundo?", ela me perguntou. Não soube responder, estava acanhado, com vergonha. Ela de roupão aberto, deixando um dos seios livre, balançando de um lado pro outro e eu nu na cama, esperando que ela se deitasse comigo. Tomou de um gole o whisky quente, "cowboy" ela dizia, "adoro cowboy", e ria com malícia. Tirou o roupão e caminhou em minha direção. "Se me disser qual é o problema do mundo eu faço o que você quiser, bonitão". Pensei em responder, mas desisti. Não conseguia prestar atenção em mais nada além daqueles peitos tão empinados e dançando de um lado para o outro, em minha direção. "É sempre a mesma coisa. Qual o problema do mundo, eu pergunto. Eles nunca sabem. Também, quem se importa com o problema quando a solução é tão simples. Qualquer coisa se resolve com seios bonitos e empinados como os meus, não é mesmo?". Eu só podia concordar. Concordei com ela a noite inteira e, já de manhã saindo pela porta da frente, sorri.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Um gosto diferente

Preciso do som da rua para escrever. Preciso do meu décimo quinto andar. Preciso da calmaria do caos universitário em que estou inserido e que eu interiorizo como meu mundo, tentando traduzi-lo em palavras. Sinto falta do estresse, da correria, do excesso de café e dos banhos da madrugada. Sinto medo do ócio e do ar puro. Tenho pavor da solidão em família.

De férias, não me sinto motivado. Trabalhando, me sinto sem tempo. No ócio, sinto que é disperdício. Bêbado, sinto falta e sofro de descordenação. Sem computador, me sinto lento. Sem caneta me sinto impotente. Sem desculpas, me sinto obrigado. E obrigado, não é tão bom quanto por vontade própria.

Tudo isso é a parte de mim que me impede de escrever. Todo o resto é a parte que me excita a isso. Meus olhos observam, meu cérebro computa e registra, meus lábios esboçam e meus dedos concretizam. A pele sente, o nariz cheira, a língua lambe. Cada sentido tem sua respectiva palavra que define e, por consequencia, limita o ato de sentir. Às vezes me sinto mesmo limitado pelas palavras, porque por mais que queira descrever os fatos, sempre acabo com as mesmas palavras, organizadas de forma diferente, ou não. Não me bastaria um dicionário inteiro, traduzido em todas as línguas, juntas, pra descrever perfeitamente a sensação de cheirar, tatear ou lamber.

O que nos leva aos mundos longíquos e belos da literatura é a nossa mente e não as palavras. Caso contrário, todos que lessem um mesmo livro sentiriam as mesmas coisa e não teria a mínima graça. Bom mesmo é cada um viver no seu mundo. Bom mesmo é cada um sentir um gosto quando lambe.

sábado, 3 de julho de 2010

Desconstrução

É uma tarde fria pra escrever. Mesmo assim, estou escrevendo como vocês bem podem ver, ou ler. Alguns amigos estão aqui na sala, conversando sobre qualquer coisa que não consigo me concentrar. As palavras passam, flutuam na minha frente e me explodem na cara sem que eu entenda uma vírgula sequer. Estou em outro lugar, com a cabeça preocupada, esquecida. Meus olhos caminham entre os rostos sorridentes e o que consigo ver são máscaras. Na verdade é a minha máscara refletida na cara deles, já que eles mesmo não estão rindo mascarados, de mentira, mas sim de verdade, de dentro. O mascarado sou eu.

Mais tarde vou sair. Tentar esquecer. Fingir que nada aconteceu e nem vai acontecer. Mesmo sabendo que alguma hora vai. Em algum momento aquilo vai voltar a mim e me transtornar. Vai me fazer uma pessoa diferente, vai me fazer bixo. Daqui a pouco estarei na rua correndo o risco de me desconstruir e revelar quem eu realmente sou. Aquele ser estranho e deformado, sem cor, sem vida, sem rumo. Na minha frente só vai existir um objetivo: ser diferente, ou indiferente a tudo. Depois disso não restará mais nada, apenas o vazio e o eco das vozes que me dizem: seja normal pelo menos uma vez na vida.

Seja normal pelo menos uma vez na vida.

Seja normal, na vida.

Seja normal.

Normal.

Nunca.