segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Jesus no Xadrez

No tempo em que as estradas eram poucas no sertão
Tangerinos e boiadas cruzavam a região
Entre volante e cangaço
Quando a lei era do braço do jagunço pau mandando do coronel invasor
Dava-se no interior esse caso inusitado
Quando o palmera das antas pertencia ao capitão Justino Bento da Cruz
Nunca faltou diversão
Vaquejada, canturia, procissão e romaria
Sexta-feira da Paixão
Na quinta-feira maior, Dona Maria das Dores,
No salão paroquial reunia os moradores
Depois de uma pré-eleção, ao lado do capitão
Escalava a seleção de atriz e atores
Todo ano era um Jesus, um Caífaz e um Pilatos
Só nao mudavam a cruz, o verdúguio e os mal-tratos
O Cristo daquele ano foi o Quincas Beija-Flor
Caífaz foi Cipriano
Pilatos foi Nicanor
Duas cordas paralelas separava a multidão
Pra que pudesse entre elas caminhar a procissão
Quincas conduzindo a cruz foi e num foi advertia,
Um cinturião pervesso que com força lhe batia
Era pra bater maneiro, Bastião não entendia
Devido um grande pifão que tomou naquele dia
Do vinho que o capelão guardava na sacristia
Cristo dizia: "ô rapaz, ve se bate devagar, já to todo encalombado
Assim não vou aguentar,
Ta com a gota pra duer, ou tu para de bater ou a gente vai brigar
Jogo ja essa cruz fora, to ficando aperriado, vou morrer antes da hora
De ficar crucificado"
O pior é que o malvado fingia que não ouvia
E além de bater com força ainda se divertia,
Espiava pra jesus, fazia pouco e dizia:
"Que Cristo froxo é você que chora na procissão?
Jesus pelo que se sabe num era mole assim não
Eu to batendo com pena,
Tu vai ver o que é bom, na subida da ladeira da venda de fenelon
O couro vai ser dobrado
Até chegar no mercado da cuica muda o tom"
Naquele momento ouviu-se um grito na multidao
Era Quincas que com raiva sacudiu a cruz no chão
E partiu feito um maluco pra cima de Bastião
Se travaram num tabefe, pontapé e cabeçada
Madalena levou queda
Pilatos levou pancada
Deram um cacete em Caífaz que até hoje não faz nem sente gosto de nada
Dismancharam a procissão
O cacete foi pesado
São Tomé levou um tranco que ficou desacordado
Acertaram um cocorote na careca de Timotéo que inté hoje é aluado
Inté mesmo São José que não é de confusão,
Na ansia de defender o seu filho de criação
Aproveitou a garapa pra dar um monte de tapa na cara do bom ladrão
A briga só terminou quando o doutor delegado interviu e separou
Cada santo pro seu lado
Desda que o mundo se fez, foi essa a primeira vez
Que Jesus foi pro xadrez mas não foi crucificado

Grande e belo Cordel do Fogo Encantado.
Uma homenagem a eles... e ao pensamento... porque NADA-COMO-PENSAR!

3 comentários:

  1. Amei a homenagem e adorei a escolha! Poucas coisas me provocaram o mesmo que assistir o show do Cordel.
    Ultimamente pensar e expressar está com um gosto muito melhor...
    Tem algo no caaso hoje e talvez eu vá, vou procurar em todos os olhares só para ver se te encontro.
    Beijos

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  2. Grupo de som e teatro... bom gosto! Pena que não irei hoje mas ao menos já sei onde te encontrar outro dia. Odeio ter outro compromisso, queria te ver.

    Aproveite por mim tb!

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