terça-feira, 17 de novembro de 2009

Na lanchonete - parte II

-Mas porque aqui?
-Você está me desconcentrando.
-Desculpe, mas preciso saber. Por que aqui?
-É um lugar calmo. Bom... Seria se você falasse um pouquinho menos.
-Muito bem. É justo.

-Tá. Pode voltar a falar.
-Falar o que?
-O que voce ia falar. O que era afinal?
-Não sei, esqueci.
-Eu também.
-Você ia falar alguma coisa?
-Não, mas estava tentando escrever.
-Escrever o que?
-Se eu lembrasse estaria escrevendo.
-E nada?
-Nada.

"Os senhores vão querer alguma coisa?"
-Pra mim um café com qualquer licor que tiver ai. E pra você?
-Whisky!
-Não seja besta homem. A esta hora da manhã?
-Muito bem. Então cachaça!
-Ele vai querer um café.
-Com conhaque pelo menos, pode ser?
-Mas...
-Está um frio danado.
-Café com conhaque, que seja.

-Escuta, o que você tem a ver com isso?
-Com isso o que?
-Com o que eu vou beber, com o que eu estou escrevendo...
-Não tenho nada a ver, mas sou seu irmão, preciso cuidar de você.
-Só me faltava essa. Você é o mais novo. Cala a boca e deixa eu escrever.
-O que está escrevendo?
-Nada. Olha só. Folha em branco. Está vendo.
-Que ótimo... Mas é sempre assim, há meses que não tenho uma idéia nova.
-Você tem um bom livro publicado.
-É mesmo. E você tem dois medianos. O que nos faz...
-Irmãos que se odeiam?
-Não. Irmãos que seguiram a mesma carreira, mas um é nitindamente melhor do que o outro.
-Filho da puta.
-Da mesma puta!

"Os cafés"
-Obrigado!
-Obrigado.
-Sendo assim, eu proponho um brinde.
-Muito bom. Já que não escrevo, bebo!
-Um brinde as folhas em branco.
-E aos irmãos filhos da puta.
-Amém.

-Agora cala a boca e me deixa escrever.
-Mas ainda não entendi porque aqui...

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