domingo, 27 de dezembro de 2009

Ao pai

Você não é respeitado dentro de sua casa.

Está tão acostumado a aceitar que seus pais têm razão em tudo, que as coisas não funcionam quando as decisões partem de você e, cada vez mais você aprende a ser submisso e a aceitar ordens mesmo que não as queira satisfazer. Depois, você passa o dia esperando um elogio que seja pelo seu comportamento, por ter sido obediente, por ter sido o garoto exemplar desde o primeiro ano do colégio até o último da faculdade.

Você vai trabalhar, ganhar muito dinheiro por conta do ótimo curriculum que acumulou por todos estes anos tentando acender uma chama qualquer de orgulho no galho seco que é seu pai, mas o máximo que recebe é um: "graças a educação que eu te dei, ao contrário, você não seria nada". Graças a educação que você me deu?

E você olha para o seu irmão e irmã que nada fazem para merecer o orgulho de seu pai ignorante mas ainda assim recebem mais do que você porque, ao contrário de você eles são decididos e bem resolvidos mesmo que no fundo não resolvam nada, nem mesmo uma conta de um-mais-um porque largaram o colégio no segundo ano, depois de um ter repetido duas vezes e o outro uma.

Ainda assim, seu pai olha pra você deixando a entender com o olhar que você não vale nada, que enquanto você não bater de frente com ele não haverá respeito por você e que abaixar a cabeça sempre foi a única coisa que ele não queria que você fizesse, mesmo depois de ter te ensinado por anos que os pais sempre têm razão e você nunca provará o contrário. Porque você é incapaz de tomar uma decisão correta.

E depois de estar convencido que você é um inútil dentro de sua própria casa e que depois de batalhar por tanto tempo pra ter o orgulho do seu pai, você olha pra trás e vê que o que conseguiu é muito maior do que isso. Seu cargo de qualquer coisa bem sucedido, sua casa, sua família que te ama, esposa e filhos, sua vida inteira que é um sucesso e quem não enxerga isso é o seu pai. Aquele mato seco e desbotado que definha enquanto você cresce.

Agora que você é pai, você percebe que pai realmente sempre tem razão. Mas que por razão entende-se ser racional e não estar sempre certo. E você, como bom pai que é, é racional e entende tudo. Não guarda mágoas do passado e, sempre que vê seu pai, o beija na mão e pede a benção. Agradece por tudo o que ele permitiu que sua vida fosse e vai-se embora com um sorriso no rosto. Porque nada disso importa mais. O que importa agora é cuidar do seu filho e de si mesmo, para que você não seja como seu pai e seu filho não seja como você. Para que a vida não seja dura demais com nenhum dos dois.

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