Tudo tem contribuído tanto para um belo começo mas me sinto caminhando para o meu incrível final. Não se pode mais falar comigo sem ser mal recebido. Nem se pode me dar um sorriso sem receber de volta indiferença. Quase choro só de pensar em qualquer sensação de sentimento. Cheio até a boca, o meu pote de mágoas se espalha pelo corpo e fica a flor da pele esperando que seja tocada e como defesa de mim mesmo eu me isolo deixando apenas transparente a expectativa de não surtar no próximo instante. O olhar perdido observando o lado de fora, tentando entender o lado de dentro.
Corro o risco de morrer a qualquer instante e não posso ao menos pressentir quando irá acontecer. A esta altura qualquer beijo de novela, qualquer olhar pode me derrubar em lagrimas ou na própria e tão temida morte. Tento me preservar como sempre fui. Pessoa calma de poucas ações. Mas a força do tempo me fez sentir a falta daquilo que nunca tive e me fez querer a mudança. Me sinto como um barco sem vela solto em alto mar. Pra onde ir foi a pergunta que sempre fiz e nunca tive resposta. Agora me resta esperar e lamentar os meus sentimentos desperdiçados com tão pouco. Sentimentos estes a flor da pele, esperando para serem libertos desta prisão que sou.
"Ando tão à flor da pele, que meu desejo se confunde com a vontade de não ser..." (Zeca Baleiro)
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
sábado, 28 de novembro de 2009
Sábado a noite
Ele ouve Chopin descaradamente
enquanto lê Saramago
Ela diz que quer descer
largar tudo e descer
pro litoral
Os dois conversam
e pensam
como o prólogo dos bons momentos
Porque o pensamento
é o ensaio da ação.
enquanto lê Saramago
Ela diz que quer descer
largar tudo e descer
pro litoral
Os dois conversam
e pensam
como o prólogo dos bons momentos
Porque o pensamento
é o ensaio da ação.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Na lanchonete - parte III
Se não era assim tão tímida, era educada e pediu por favor um café amargo, para curar a dor do amor perdido. Se não era assim incovenitente, talvez, trazer algumas torradas para começar o dia que tinha choro marcado às duas da tarde, depois do almoço solitário no refeitório da empresa. Não fosse menos ainda cheia de dúvidas quanto tão decidida sobre o sabor do suco, de laranja, que escolheu no cardápio sujo da lanchonete-bar-café na esquina mais movimentada das ruas de sua pequena cidade. Fosse assim um fato tão cotidiano quanto isolado, que só ela sentia, ali naquela lanchonete-bar-café, na esquina movimenta de sua pequena cidade-estado-país, não importa, à não ser o fato de ser com ela e mais ninguém e isso sim, realmente importava. Era ela. E mais ninguém.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Ensaios
Deixe as mãos assim, em cima do velho piano de calda. Sua mão pálida se confundindo com as teclas brancas e contrastando com as negras em melodia. Os cabelos caindo pelos ombros nus, suados do calor e as pintas, sardas, se mostrando sedutoras. Não se esqueça de como virava os olhos para mim enquanto tocava Chopin ou coisa do tipo. Sabia que meus pêlos se eriçavam todos, me tomando de agonia e prazer em te ouvir tocar. Queria possuí-la mas não, era melhor que não. Logo depois rolavamos um sobre o outro na cama iluminada pela luz da rua e depois do gozo sorriamos e, olhando os dois para o teto branco, o arrependimento. Como era bom algo tão ruim, tão errado. Como eram lindo seus olhos cantando a partirtura do piano aberto. E como eram lindas suas mãos brancas tocando minha pele escura, como meios tons da melodia amarga de noite após noite em que pecamos naquele quarto, iluminado apenas pela luz da rua. Apenas pela luz da rua.
domingo, 22 de novembro de 2009
Saudade
é alguém que passou por mim e não vai voltar.
é aquele cheiro de shampoo.
é a tarde de domingo olhando pra cima e procurando o que fazer.
é o dia que virou noite e que virou memoria e voce nem percebeu.
é a casa que vejo todos os dias, mas nunca entrei.
é tudo, se tornando nada, em alguns segundos.
é aquele cheiro de shampoo.
é a tarde de domingo olhando pra cima e procurando o que fazer.
é o dia que virou noite e que virou memoria e voce nem percebeu.
é a casa que vejo todos os dias, mas nunca entrei.
é tudo, se tornando nada, em alguns segundos.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Rapidinhas
1] Acabei de ser informado que o Palmeiras teve dois jogadores expulsos por faltas identicas às que dois jogadores do São Paulo cometeram, mas que estes últimos não foram expulsos do jogo.
2] Pra dizer bem a verdade, não ligo pra futebol.
3] "AH! Está copiando o Marcelino!" (Marcelino Freire, pra quem não sabe)
4] Sim. Aliás, na verdade estou homenageando -o.
5] E por mais que tente, nunca serei como ele.
6] Porque as rapidinhas dele são muitas.
7] As minhas são poucas, como a minha criatividade.
8] Limitada.
9] Mesmo que em gozo.
10] Tchau.
11] ps.: terminei de ler o Mutarelli hoje. "Miguel e os demônios" é bom. E "O Natimorto", que havia lido antes, melhor ainda. No aguardo agora por minha encomenda de "O cheiro do ralo". Valeu Lourenço.
2] Pra dizer bem a verdade, não ligo pra futebol.
3] "AH! Está copiando o Marcelino!" (Marcelino Freire, pra quem não sabe)
4] Sim. Aliás, na verdade estou homenageando -o.
5] E por mais que tente, nunca serei como ele.
6] Porque as rapidinhas dele são muitas.
7] As minhas são poucas, como a minha criatividade.
8] Limitada.
9] Mesmo que em gozo.
10] Tchau.
11] ps.: terminei de ler o Mutarelli hoje. "Miguel e os demônios" é bom. E "O Natimorto", que havia lido antes, melhor ainda. No aguardo agora por minha encomenda de "O cheiro do ralo". Valeu Lourenço.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Na lanchonete - parte II
-Mas porque aqui?
-Você está me desconcentrando.
-Desculpe, mas preciso saber. Por que aqui?
-É um lugar calmo. Bom... Seria se você falasse um pouquinho menos.
-Muito bem. É justo.
-Tá. Pode voltar a falar.
-Falar o que?
-O que voce ia falar. O que era afinal?
-Não sei, esqueci.
-Eu também.
-Você ia falar alguma coisa?
-Não, mas estava tentando escrever.
-Escrever o que?
-Se eu lembrasse estaria escrevendo.
-E nada?
-Nada.
"Os senhores vão querer alguma coisa?"
-Pra mim um café com qualquer licor que tiver ai. E pra você?
-Whisky!
-Não seja besta homem. A esta hora da manhã?
-Muito bem. Então cachaça!
-Ele vai querer um café.
-Com conhaque pelo menos, pode ser?
-Mas...
-Está um frio danado.
-Café com conhaque, que seja.
-Escuta, o que você tem a ver com isso?
-Com isso o que?
-Com o que eu vou beber, com o que eu estou escrevendo...
-Não tenho nada a ver, mas sou seu irmão, preciso cuidar de você.
-Só me faltava essa. Você é o mais novo. Cala a boca e deixa eu escrever.
-O que está escrevendo?
-Nada. Olha só. Folha em branco. Está vendo.
-Que ótimo... Mas é sempre assim, há meses que não tenho uma idéia nova.
-Você tem um bom livro publicado.
-É mesmo. E você tem dois medianos. O que nos faz...
-Irmãos que se odeiam?
-Não. Irmãos que seguiram a mesma carreira, mas um é nitindamente melhor do que o outro.
-Filho da puta.
-Da mesma puta!
"Os cafés"
-Obrigado!
-Obrigado.
-Sendo assim, eu proponho um brinde.
-Muito bom. Já que não escrevo, bebo!
-Um brinde as folhas em branco.
-E aos irmãos filhos da puta.
-Amém.
-Agora cala a boca e me deixa escrever.
-Mas ainda não entendi porque aqui...
-Você está me desconcentrando.
-Desculpe, mas preciso saber. Por que aqui?
-É um lugar calmo. Bom... Seria se você falasse um pouquinho menos.
-Muito bem. É justo.
-Tá. Pode voltar a falar.
-Falar o que?
-O que voce ia falar. O que era afinal?
-Não sei, esqueci.
-Eu também.
-Você ia falar alguma coisa?
-Não, mas estava tentando escrever.
-Escrever o que?
-Se eu lembrasse estaria escrevendo.
-E nada?
-Nada.
"Os senhores vão querer alguma coisa?"
-Pra mim um café com qualquer licor que tiver ai. E pra você?
-Whisky!
-Não seja besta homem. A esta hora da manhã?
-Muito bem. Então cachaça!
-Ele vai querer um café.
-Com conhaque pelo menos, pode ser?
-Mas...
-Está um frio danado.
-Café com conhaque, que seja.
-Escuta, o que você tem a ver com isso?
-Com isso o que?
-Com o que eu vou beber, com o que eu estou escrevendo...
-Não tenho nada a ver, mas sou seu irmão, preciso cuidar de você.
-Só me faltava essa. Você é o mais novo. Cala a boca e deixa eu escrever.
-O que está escrevendo?
-Nada. Olha só. Folha em branco. Está vendo.
-Que ótimo... Mas é sempre assim, há meses que não tenho uma idéia nova.
-Você tem um bom livro publicado.
-É mesmo. E você tem dois medianos. O que nos faz...
-Irmãos que se odeiam?
-Não. Irmãos que seguiram a mesma carreira, mas um é nitindamente melhor do que o outro.
-Filho da puta.
-Da mesma puta!
"Os cafés"
-Obrigado!
-Obrigado.
-Sendo assim, eu proponho um brinde.
-Muito bom. Já que não escrevo, bebo!
-Um brinde as folhas em branco.
-E aos irmãos filhos da puta.
-Amém.
-Agora cala a boca e me deixa escrever.
-Mas ainda não entendi porque aqui...
sábado, 14 de novembro de 2009
Minha semana em frenesi
Sexta feira pa-passada, ou seja, sem ser esta última (ontem), mas a outra. Foi formatura da minha irmã e - mesmo que ela não esteja se formando exatamente - fomos a festa para comemorar. Por "fomos", leia-se "eu e minha família". Obviamente, onde tem festa tem bebida e onde tem bebida tem o senhor Filippe bêbado, pra variar. Acho mesmo que preciso parar com este hábito.
Continuando, na formatura bebi o suficiente para não lembrar o suficiente, ou apenas o suficiente pra dizer que a festa foi boa, deu pra entender? Se sim, bem - me explica depois; se não, bem vindo ao clube da ressaca e do esquecimento pós Whisky, Cerveja, Tequila, comida japonesa direto da panela - disso eu me lembro - e do amigo bêbado tomando chopp direto do balde onde era servida a cerveja. Mas onde ele conseguiu chopp? É uma pergunta tão sem sentido quanto perguntar se Deus existe.
De qualquer forma, depois da ressaca colossal no sábado de manhã e de ter que aguentar a minha família me azucriando por eu ser ridiculo quando estou bebado, veio a famos promessa: "nunca mais vou beber e-ponto-final!". No sabado mesmo à noite fui ao bar com minha irmã e meus primos e - JURO - fiquei só nos refrigerantes sem gás, servidos infinitamente naquele bar sem graça. Costumava ser engraçado quando eu bebia lá.
Sobrevivi então ao sábado. Domingo viajei, dirigi de volta à minha cidade universitária onde o perigo é sempre iminente pra quem quer parar de beber. Mesmo assim, fui forte na promessa e segunda-feira foi vencida com louvor, quando recusei um convite para "uma cervejinha só" e ainda fui na academia em contra-partida ao pedido. Mas a minha glória não duraria por muito tempo.
Cheguei à terça-feira com a cabeça focada e os músculos tonificados da academia do dia anterior. Venci as primeiras horas do dia sem muito esforço. Álcool antes do almoço já não me atraia mais, que coisa milagrosa. Eu estava mudando. Tudo ia bem, eu era vencedor de mais um dia até que - obvio que algo iria acontecer, caso contrario este texto não teria sentido - APAGÃO. Isso mesmo, você deve estar lembrado se você mora em algum estado que é alimentado com energia de ITAIPU. Mais especificamente se sua cidade é alimentada por uma das linhas de Itaipu que caiu na última terça-feira.
O que ocorreu a seguir foi natural. Tão natural quanto o próprio apagão. Tinha que acontecer e aconteceu. Bebi feito um porco no cio, se bebem os porcos quando estão no cio. O coitado do batmam bem que tentou me alcançar mas não chegou nem perto. Nem ele, nem toda a liga da justiça conseguiram deter os incríveis poderes do homem bêbado que me tornei. Algo de heróico e malígno tomou conta de mim e bebi tudo o que tinha direito. Já estava confundindo bala de canhão com conhaque de alcatrão quando resolvi parar. Meu eu recional interior me pediu pra parar e parei. Afinal, tinha que dirigir ainda. Esperei as luzes e o foco da minha visão retornarem para poder dirigir e para não ter que subir 15 (quinze) andares de escadas à pé, no escuro e sem saber diferenciar pé-direito do pé-esquerdo.
Pois bem, cheguei em casa vivo. Insano e salvo. Dormi e advinha só? Ressaca sem fim no dia seguinte, EBA QUE BOM! Além disso, recebi a boa notícia de que as bebidas que tomamos na noite anterior estavam vencidas há dias, meses, anos talvez. Preferi não saber, mas gostei de ter uma resposta plausível para a dor de cabeça medida na escala Richter que estava sentindo e para a dor de estomago infernal que me fez arrotar lava. Que bom, uma resposta. Que ruim, tive que conviver com isso o resto do dia. Mais uma vez, depois da cagada descomunal e acoolica que dei, prometi não beber nunca mais. "NUNCA MAIS! ESTÃO ME OUVINDO?". Até que chega a quarta feira...
No próximo bloco, se eu tiver saco para escrever outro texto deste tamanho sobre a minha estúpida saga de bebedeira, vocês leitores saberão o que aconteceu na quarta, quinta e sexta feiras de minha nada mole e agitada vida. Até, seus inúteis...
Continuando, na formatura bebi o suficiente para não lembrar o suficiente, ou apenas o suficiente pra dizer que a festa foi boa, deu pra entender? Se sim, bem - me explica depois; se não, bem vindo ao clube da ressaca e do esquecimento pós Whisky, Cerveja, Tequila, comida japonesa direto da panela - disso eu me lembro - e do amigo bêbado tomando chopp direto do balde onde era servida a cerveja. Mas onde ele conseguiu chopp? É uma pergunta tão sem sentido quanto perguntar se Deus existe.
De qualquer forma, depois da ressaca colossal no sábado de manhã e de ter que aguentar a minha família me azucriando por eu ser ridiculo quando estou bebado, veio a famos promessa: "nunca mais vou beber e-ponto-final!". No sabado mesmo à noite fui ao bar com minha irmã e meus primos e - JURO - fiquei só nos refrigerantes sem gás, servidos infinitamente naquele bar sem graça. Costumava ser engraçado quando eu bebia lá.
Sobrevivi então ao sábado. Domingo viajei, dirigi de volta à minha cidade universitária onde o perigo é sempre iminente pra quem quer parar de beber. Mesmo assim, fui forte na promessa e segunda-feira foi vencida com louvor, quando recusei um convite para "uma cervejinha só" e ainda fui na academia em contra-partida ao pedido. Mas a minha glória não duraria por muito tempo.
Cheguei à terça-feira com a cabeça focada e os músculos tonificados da academia do dia anterior. Venci as primeiras horas do dia sem muito esforço. Álcool antes do almoço já não me atraia mais, que coisa milagrosa. Eu estava mudando. Tudo ia bem, eu era vencedor de mais um dia até que - obvio que algo iria acontecer, caso contrario este texto não teria sentido - APAGÃO. Isso mesmo, você deve estar lembrado se você mora em algum estado que é alimentado com energia de ITAIPU. Mais especificamente se sua cidade é alimentada por uma das linhas de Itaipu que caiu na última terça-feira.
O que ocorreu a seguir foi natural. Tão natural quanto o próprio apagão. Tinha que acontecer e aconteceu. Bebi feito um porco no cio, se bebem os porcos quando estão no cio. O coitado do batmam bem que tentou me alcançar mas não chegou nem perto. Nem ele, nem toda a liga da justiça conseguiram deter os incríveis poderes do homem bêbado que me tornei. Algo de heróico e malígno tomou conta de mim e bebi tudo o que tinha direito. Já estava confundindo bala de canhão com conhaque de alcatrão quando resolvi parar. Meu eu recional interior me pediu pra parar e parei. Afinal, tinha que dirigir ainda. Esperei as luzes e o foco da minha visão retornarem para poder dirigir e para não ter que subir 15 (quinze) andares de escadas à pé, no escuro e sem saber diferenciar pé-direito do pé-esquerdo.
Pois bem, cheguei em casa vivo. Insano e salvo. Dormi e advinha só? Ressaca sem fim no dia seguinte, EBA QUE BOM! Além disso, recebi a boa notícia de que as bebidas que tomamos na noite anterior estavam vencidas há dias, meses, anos talvez. Preferi não saber, mas gostei de ter uma resposta plausível para a dor de cabeça medida na escala Richter que estava sentindo e para a dor de estomago infernal que me fez arrotar lava. Que bom, uma resposta. Que ruim, tive que conviver com isso o resto do dia. Mais uma vez, depois da cagada descomunal e acoolica que dei, prometi não beber nunca mais. "NUNCA MAIS! ESTÃO ME OUVINDO?". Até que chega a quarta feira...
No próximo bloco, se eu tiver saco para escrever outro texto deste tamanho sobre a minha estúpida saga de bebedeira, vocês leitores saberão o que aconteceu na quarta, quinta e sexta feiras de minha nada mole e agitada vida. Até, seus inúteis...
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
O homem que pensa
Às vezes o homem precisa de tempo pra pensar.
Ele se senta em sua poltrona e observa.
Observa o nada, procurando respostas pra tudo.
Passa a mão na barba - porque barba é sinal de sabedoria.
Os olhos perdidos e profundos contam uma história por si só.
E cada marca do rosto, derretido em preocupações, demonstra a seriedade do homem que pensa.
Porque às vezes o homem simplesmente precisa de tempo pra pensar.
Vou deixar crescer a barba.
Ele se senta em sua poltrona e observa.
Observa o nada, procurando respostas pra tudo.
Passa a mão na barba - porque barba é sinal de sabedoria.
Os olhos perdidos e profundos contam uma história por si só.
E cada marca do rosto, derretido em preocupações, demonstra a seriedade do homem que pensa.
Porque às vezes o homem simplesmente precisa de tempo pra pensar.
Vou deixar crescer a barba.
sábado, 7 de novembro de 2009
Na lanchonete - parte I
Hoje ela veio de minissaia. Ela nem gosta de minissaias. Eu vi como ela olhou pra outra moça que estava de minissaia, ontem. Deve estar querendo me provocar.
-Moço!
Com certeza quer me provocar. O que será que ela quer?
-Moço. Por favor!
Aposto que hoje ela fala o que tem pra falar.
-Alô-ôu. Aqui, por favor.
-Pois não?
-Quero um café descafeinado e um desse aqui ó.
O de sempre.
Mas só ela pede o de sempre de maneira diferente todo dia.
Deve ser por isso que eu a admiro tanto.
-Certo. Mais alguma coisa?
-Não.
Não.
Como todo dia.
Mas algum dia, ela há de dizer sim.
Nesse dia eu a chamo pra sair.
Tomar um café em algum lugar.
-Moço!
Com certeza quer me provocar. O que será que ela quer?
-Moço. Por favor!
Aposto que hoje ela fala o que tem pra falar.
-Alô-ôu. Aqui, por favor.
-Pois não?
-Quero um café descafeinado e um desse aqui ó.
O de sempre.
Mas só ela pede o de sempre de maneira diferente todo dia.
Deve ser por isso que eu a admiro tanto.
-Certo. Mais alguma coisa?
-Não.
Não.
Como todo dia.
Mas algum dia, ela há de dizer sim.
Nesse dia eu a chamo pra sair.
Tomar um café em algum lugar.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Você dizia...
Sentados no restaurante
-Então... O que quer dizer?
-Não quero dizer nada.
-Mas...
Chega a comida.
Pensamentos, flashes.
-Diga!
-Já disse o que tinha pra dizer.
-Não, eu não entendo.
-Amor, não fale de boca cheia!
-Puta que pariu!
Silêncio.
Cautela.
-Desculpa, você sabe que...
-Não tolero palavrões.
-Eu sei, mas...
-Você sabe o quanto eu odeio isso.
-Sim, mas...
-E você insiste em falar.
-Amor...
-Não acredito.
-PORRA! Escuta!
Silêncio.
Paciência, paciência...
-Eu não sei se entendi muito bem mas...
-Tem uma coisa ai.
-O quê?
-Tem uma coisa ai.
-Ai aonde? Do que está falando?
-Aí, no canto da boca.
-O quê?
-Tem comida no canto da sua boca. Limpa isso, está me incomodando.
Respira.
Limpa o canto da boca.
Vai começar a falar.
-Com a toalha da mesa, amor? Tenha modos.
-(Batendo a mão na mesa. Ela assusta. Ele contido)Escuta! (Pausa longa, olhos nos olhos) Estamos aqui para discutir algo bem mais importante do que a comida no canto da minha boca.
-(Como uma criança tentando se justificar)Sim. Eu compreendo. (Fala olhando pra baixo)Mas estava me incomodando.
Ele respira fundo.
Raiva no canto da boca.
-Quero que você me explique novamente. O que quer dizer com...
-Não repita, por favor. Sou supersticiosa.
Ele bufa o que ia terminar de falar.
Respira.
Pensa bem.
Vai tentar de novo.
-(Pausadamente cada frase)Por favor. Do começo. Me explica.
-Explique-me. (Pausa. Ele a encara profundamente. Ela tenta se explicar como anteriormente)É o jeito correto: "explique-me". No começo da frase. Enfim... (Desvia o olhar)
-(Encarando-a)Escuta, estou perdendo a paciência.
-Você nunca teve muita mesmo.
-(Falando para si. Raiva contida) Merda!
-O quê?
Ele a encara nos olhos.
Sorriso inconformado.
Procura por onde começar.
Tenta e para.
Retoma.
-Eu disse merda.
-Que absurdo. E acabei de dizer que...
-Merda!
-O que está acontecendo?
-(Passando os olhos pelo ambiente)Estou cansado disso tudo.
-Mas...
-Merda! É isso mesmo.
Boca entreaberta; dela.
Olhar penetrante, entre o ambiente e ela; dele.
-Não aguento mais você me dizendo o que fazer.
-Eu...
-(Com a mão apontando pra ela) Não. Não. É melhor não dizer nada.
Silêncio.
-Você se estragou agora. Acabou com a própria vida. Não sabe o que te esperava. Não. (Ri)
-Meu bem, você...
-Não me venha com esse (imita ela) "meu bem". Você nunca se preocupou.
-Mas...
-Shhh. Shhh. (Com o dedo indicador na frente da boca)
Engolem as salivas.
-Eu vou matá-la. Sim, é isso.
-O quê?
-Vou fazer picadinho de você. Quanto você pesa?
-Calma... Eu...
-Ein!? Quanto você pesa? Levaria o que, uns cinco dias para comê-la.
-Amor, que brincadeira mais sem graça.
-Não é brincadeira.
Ele tem ar de louco.
Flashes.
-(Surtando e gritando, quase levantando da cadeira, pra cima dela) VOU ACABAR COM VOCÊ SUA VADIA!
-SOCORRO!
Garçons em alerta.
-VOU TE MATAR SUA PUTA!
Ela levanta pra correr.
Ele a segura pelo braço.
Alguém o segura pelas pernas.
Alguém a segura pelo outro braço.
Gritaria.
-Acalmem -se todos. - grita um dos garçons.
-ACALMEM-SE. (Prolonga o "SE")
Pausa.
Tensão.
Ele, soltando um ultimo suspiro, a larga, desistindo.
Ela assustada é abraçada pelo garçon protetor.
Ele chora, derrotado, com a cara no chão.
Ela chora, amedrontada.
Os garçons se riem por dentro.
As pessoas comem suas sopas e bifes ensanguentados.
Ele não olha mais pra ela.
Ela proibiu que falassem o nome dele.
Ela pesa 61.
Ele, 94.
-Então... O que quer dizer?
-Não quero dizer nada.
-Mas...
Chega a comida.
Pensamentos, flashes.
-Diga!
-Já disse o que tinha pra dizer.
-Não, eu não entendo.
-Amor, não fale de boca cheia!
-Puta que pariu!
Silêncio.
Cautela.
-Desculpa, você sabe que...
-Não tolero palavrões.
-Eu sei, mas...
-Você sabe o quanto eu odeio isso.
-Sim, mas...
-E você insiste em falar.
-Amor...
-Não acredito.
-PORRA! Escuta!
Silêncio.
Paciência, paciência...
-Eu não sei se entendi muito bem mas...
-Tem uma coisa ai.
-O quê?
-Tem uma coisa ai.
-Ai aonde? Do que está falando?
-Aí, no canto da boca.
-O quê?
-Tem comida no canto da sua boca. Limpa isso, está me incomodando.
Respira.
Limpa o canto da boca.
Vai começar a falar.
-Com a toalha da mesa, amor? Tenha modos.
-(Batendo a mão na mesa. Ela assusta. Ele contido)Escuta! (Pausa longa, olhos nos olhos) Estamos aqui para discutir algo bem mais importante do que a comida no canto da minha boca.
-(Como uma criança tentando se justificar)Sim. Eu compreendo. (Fala olhando pra baixo)Mas estava me incomodando.
Ele respira fundo.
Raiva no canto da boca.
-Quero que você me explique novamente. O que quer dizer com...
-Não repita, por favor. Sou supersticiosa.
Ele bufa o que ia terminar de falar.
Respira.
Pensa bem.
Vai tentar de novo.
-(Pausadamente cada frase)Por favor. Do começo. Me explica.
-Explique-me. (Pausa. Ele a encara profundamente. Ela tenta se explicar como anteriormente)É o jeito correto: "explique-me". No começo da frase. Enfim... (Desvia o olhar)
-(Encarando-a)Escuta, estou perdendo a paciência.
-Você nunca teve muita mesmo.
-(Falando para si. Raiva contida) Merda!
-O quê?
Ele a encara nos olhos.
Sorriso inconformado.
Procura por onde começar.
Tenta e para.
Retoma.
-Eu disse merda.
-Que absurdo. E acabei de dizer que...
-Merda!
-O que está acontecendo?
-(Passando os olhos pelo ambiente)Estou cansado disso tudo.
-Mas...
-Merda! É isso mesmo.
Boca entreaberta; dela.
Olhar penetrante, entre o ambiente e ela; dele.
-Não aguento mais você me dizendo o que fazer.
-Eu...
-(Com a mão apontando pra ela) Não. Não. É melhor não dizer nada.
Silêncio.
-Você se estragou agora. Acabou com a própria vida. Não sabe o que te esperava. Não. (Ri)
-Meu bem, você...
-Não me venha com esse (imita ela) "meu bem". Você nunca se preocupou.
-Mas...
-Shhh. Shhh. (Com o dedo indicador na frente da boca)
Engolem as salivas.
-Eu vou matá-la. Sim, é isso.
-O quê?
-Vou fazer picadinho de você. Quanto você pesa?
-Calma... Eu...
-Ein!? Quanto você pesa? Levaria o que, uns cinco dias para comê-la.
-Amor, que brincadeira mais sem graça.
-Não é brincadeira.
Ele tem ar de louco.
Flashes.
-(Surtando e gritando, quase levantando da cadeira, pra cima dela) VOU ACABAR COM VOCÊ SUA VADIA!
-SOCORRO!
Garçons em alerta.
-VOU TE MATAR SUA PUTA!
Ela levanta pra correr.
Ele a segura pelo braço.
Alguém o segura pelas pernas.
Alguém a segura pelo outro braço.
Gritaria.
-Acalmem -se todos. - grita um dos garçons.
-ACALMEM-SE. (Prolonga o "SE")
Pausa.
Tensão.
Ele, soltando um ultimo suspiro, a larga, desistindo.
Ela assustada é abraçada pelo garçon protetor.
Ele chora, derrotado, com a cara no chão.
Ela chora, amedrontada.
Os garçons se riem por dentro.
As pessoas comem suas sopas e bifes ensanguentados.
Ele não olha mais pra ela.
Ela proibiu que falassem o nome dele.
Ela pesa 61.
Ele, 94.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Na rua sete
Ela abre a boca pra cantar. Alguns segundos depois alguém grita que está uma merda, que ela não serve para isso. Ela continua. Aos poucos as pessoas vão parando pra ouvir, até que alguém se levanta com as mãos na boca. Estão todos começando a ficar impressionados. O que era aquilo, afinal? Naquele barzinho empoeirado, esfumaçado, desorganizado e agora: impressionado. Os copos de bebida pendiam nas mãos se seus bebedores. O atendente ficou atônito, fez cara de que aquilo não podia estar acontecendo. Não ali. Mas estava. E ela então cantou mais alto e mais alto e continuou cantando, alí, no barzinho da rua sete, aquela música que dizia mais do que se podia ouvir.
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